sexta-feira, 3 de maio de 2013

COMPETITIVIDADE NA VIDA

Ontem estava pensando nesse assunto, quando vi o programa Globo Mar sobre o Navio-Escola Brasil. Vi que as pessoas que lá estão sabem conviver bem entre elas, são competitivas, são preparadas pra vida. Comecei a refletir e notei que faltou um pouco de preparo na minha vida nesse sentido. Eu explico.

Meu pai sempre foi um cara low profile. Inteligente, de poucos amigos, introspectivo, mas divertido, e praticante de esportes individuais. Desde pequeno me falava que gostava de fazer cooper, jogar tênis, etc porque eram esportes individuais. Não gostava de ter que contar com ninguém, não gostava de problema, não gostava de dar esporro, de cobrar nada de ninguém. Gostava só de fazer a parte dele, e ponto final, inclusive sem ter que ficar dando satisfação pra outros membros da equipe. Por isso praticava esportes individuais. No trabalho, sempre gostou de atividades técnicas e analíticas, que dependessem somente dele, ali, no cantinho dele. Nunca quis ser chefe, porque achava um saco ficar dando ordem, cobrando os outros, tendo que se aborrecer. Queria fazer a parte dele, direitinho, e ir embora pra casa, feliz com ele mesmo. Na hora do almoço, gostava de ir comer sozinho, porque não gostava da indecisão do grupo de "onde ir almoçar", ou ser forçado a ficar andando na rua no ritmo alheio. Ele tinha o próprio ritmo, e assim seguia.

Minha mãe não era muito diferente. Pessoa simples, humilde, recatada, muito na dela também. Trabalhou num grande banco por muitos anos, e também nunca foi muito competitiva, não procurou se aprimorar, nem nada. Era super-protetora comigo, não me deixava cruzar o portão do prédio onde morava sem antes pedir autorização expressa pra ela. Nunca me deu a chave de casa (pra entrar em casa eu tinha que tocar a campainha), nunca me deixou viajar sozinho com os amigos (inclusive perdi uma viagem fantástica pra casa de um amigo meu que morava nos EUA na época do colégio, porque o pai era da Marinha e ele tinha sido transferido pra lá), nunca tirou as grades da janela do apartamento (com medo de um dos filhos se jogar), nunca deixou mexermos com facas na cozinha ou com fogo, etc. Sem falar que me deixava de castigo pelas coisas mais idiotas do mundo, do tipo chegar em casa 5 minutos atrasado do play. Era foda.

Apesar de ter perfis parecidos, meus pais eram diferentes. Meu pai era mais liberal, achava que eu tinha que me virar sozinho, aprender a fazer as coisas, andar na rua sozinho etc. Tanto que quando eu passei pra quinta série ele foi quem bateu o pé lá em casa pra que eu pudesse ir e voltar do colégio sozinho, de ônibus (eu tinha 10 anos na época). Me ensinou a pegar o ônibus, falou das variáveis que poderiam acontecer, e eu me virei. Já minha mãe me prendia em casa o máximo que podia, era difícil eu conseguir a autorização pra ir ao cinema com os amigos, ou ir na padaria comprar um pão de queijo (quando era autorizado, tinha que ir num pé e voltar no outro). Então, meu pai soltava e minha mãe prendia. Minha mãe era a polícia e meu pai o judiciário. :)

Mas, nessa confusão de perfis, uma coisa era certa: nenhum dos dois era muito competitivo. Se dependesse da minha mãe, eu ficava o dia inteiro dentro de casa, não descia nem pro playground. Isso fez com que eu me tornasse um cara meio bobo até os 15 anos, pois nunca tinha convivido com a galera na rua, mas somente dentro do prédio. Além disso, minha mãe nunca praticou nenhuma atividade física sequer, e meu pai só as individuais, e somente pela atividade física em si, e não pela competição. Isso significa que eu nunca fui incentivado a por exemplo participar de uma competição de futebol, de natação, de judô. Quase nunca era influenciado a fazer atividades físicas. Meu pai, apesar de gostar de esportes (os individuais), era "na dele", e não me forçava a nada. Minha mãe não sabia nem o que era esporte. 

Hoje consigo enxergar "de fora" e vejo claramente que meus amigos jogavam bola pra caramba no recreio, participaram de inúmeras competições quando eram jovens, de lutas, de natação, de futebol, essas atividades típicas. Todos eles têm medalhas e troféus no quarto, roupas e acessórios de esporte. Eu nunca tive nada disso. A única coisa que eu gostava, pra não dizer que não gostava de nada, era bicicleta. Sempre andei de bike, dentro do prédio (com os amigos) ou fora dele (com meu pai). Fora isso, nenhuma atividade, nenhuma competição, nenhuma medalha. Aliás, pra não ser totalmente injusto, participei de umas 2 ou 3 corridas rústicas organizadas pela associação de funcionários onde meu pai trabalhava, mas obviamente sem preparo físico nenhum, fiquei em último lugar.

Escrevendo essas linhas, lembrei também que gostava de skate, e andava de vez em quando, mas provavelmente minha mãe devia ficar com medo e não me deixava muito. Também tentei praticar bodyboard, achava o máximo, só que eu era muito magro e sem fôlego, então não conseguia cruzar a arrebentação.

Não é culpa dos meus pais, de forma alguma eu penso dessa maneira. Não acho que tenha sido culpa deles. Nem foi culpa minha. Foi culpa da circunstância, da família em que eu nasci, eles são assim e pronto. Eu não tinha essa visão naquela época. Talvez se eu tivesse, teria corrido atrás do prejuízo um pouco mais, teria praticado mais esportes, teria corrido mais, teria me alimentado melhor pra fazer crescer meus músculos. Mas não foi caso. Aos 18 anos eu pesava em torno de 52-54 kg, era pele e osso. Só então percebi esse déficit em relação aos coleguinhas, e comecei a me dedicar à musculação. No primeiro ano ganhei 10 kg de peso, pulando pra 62-64 kg. Os próximos kilos a ganhar seriam mais lentos, cerca de 1-2 kg por ano, ao longo de muitos anos. Meu peso ideal é 72-74 kg, na minha opinião (tenho 33 anos e 1,73 m de altura), mas hoje em dia tô com uns 75 kg. Me considero um pouco gordo, porque não tenho muita massa magra nesses 75 kg. Mas estou feliz, pois já cheguei a pesar quase 80 kg na época que trabalhava que nem um corno. Acho que hoje em dia, correndo 3x por semana e nadando 2x por semana, e ainda fazendo barras, flexões e malhando de vez em quando perna/core, dá pra chegar a 74 kg com pouca gordura. Sei que o meu passado de poucas atividades esportivas e pouco espírito competitivo não ajudaram muito, mas acho que ainda tá em tempo de recuperar.

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